quarta-feira, 29 de novembro de 2006

A posição singular de Israel

O artigo seguinte foi publicado no Los Angeles Times em 26 de maio de 1968, um ano depois da Guerra dos Seis Dias. O tempo passa, mas algu­mas situações não mudam.

Os judeus são um povo peculiar: coisas permitidas a outras nações são proibidas aos judeus. Outras nações expulsam milhares ou até milhões de pessoas, e não há problemas de refu­giados. A Rússia fez isso, a Polónia e a Tchecoslováquia também o fize­ram; a Turquia expulsou um milhão de gregos, e a Argélia, um milhão de franceses. A Indonésia expulsou de seu território incontáveis chineses -e ninguém diz uma palavra a respei­to de refugiados.
Mas, no caso de Israel, os árabes desalojados se tornaram eternos re­fugiados. Todos insistem que Israel deve reabsorver todos eles.
Arnold Toynbee afirma que a re­moção dos árabes foi uma atrocida­de maior que qualquer ato cometido pelos nazistas. Outras nações, quan­do vitoriosas no campo de batalha, impõem os termos do acordo de paz. Mas quando Israel vence, pre­cisa solicitar a paz. Todo mundo es­pera que os judeus sejam os únicos cristãos verdadeiros deste mundo.
Outras nações, quapdo derrota­das, sobrevivem e se recuperam; mas, se Israel fosse derrotado, seria destruído. Se [o presidente egípcio, Gamai Abdel] Nasser tivesse venci­do em junho passado, ele teria var­rido Israel do mapa, e ninguém te­ria levantado um dedo para salvar os judeus. Nenhum compromisso assumido com os judeus por qual­quer nação, inclusive os EUA, vale o papel em que foi escrito.
Ouve-se um clamor de revolta no mundo inteiro quando pessoas morrem no Vietnã ou são executadas na Rodésia [atuais Zâmbia e Zimbábue]. Mas quando Hitler massacrou ju­deus, ninguém protestou. Os suecos, que estão prestes a romper relações diplomáticas com os Estados Unidos por causa do que estes estão fa­zendo no Vietnã, não se ma­nifestaram quando Hitler es­tava assassinando judeus. Eles enviaram para Hitler minério de ferro selecionado e rola­mentos de aço, e forneceram às suas tropas trens para che­gar à Noruega.
Os judeus estão sozinhos no mundo. Se Israel sobreviver, será exclusivamente por causa do esforço e dos recursos dos pró­prios judeus. No entanto, neste mo­mento, Israel é o nosso único alia­do confiável e incondicional. Pode­mos confiar mais em Israel do que Israel em nós. E basta imaginar o que teria acontecido no último ve­rão, se os árabes e os russos que lhes dão apoio tivessem vencido a guerra, para perceber como a so­brevivência de Israel é vital para os EUA e para o Ocidente, de um mo­do geral.
Tenho uma premonição que não quer me largar: o que acontecer com Israel, vai acontecer conosco. Se Israel perecer, o holocausto virá sobre nós.

(O texto foi escrito por Eric Hoffer, filósofo social america­no, não-judeu, nasceu em 1902 e fa­leceu em 1983. Autor de nove livros, foi condecorado com a Medalha Pre­sidencial da Liberdade dos EUA.)

Nenhum comentário: